quinta-feira, 23 de abril de 2015

Um campeão gaúcho à espera do retorno

Júlio Battisti levou o Rio Grande ao título da Segunda Divisão Gaúcha em 2014 e atualmente vive a expectativa de treinar um clube do RS

Foto: Fabio Dutra/Jornal Agora
Campeão gaúcho da segunda divisão em 2014 pelo Rio Grande, Júlio Battisti é um dos poucos profissionais a não estar em atividade na atual temporada. Já são seis meses longe do batente, não por vontade própria, mas pela árdua escolha da profissão de técnico de futebol, uma carreira que necessita estar sempre atualizado e buscando aperfeiçoamento. Mas nem os bons resultados conquistados dentro de campo garantem estabilidade no cargo. O último trabalho de Battisti foi pelo Caçadorense, clube da segunda divisão de Santa Catarina, no segundo semestre do ano passado, durante pouco mais de um mês. Dos oito técnicos que avançaram às fases finais na Segunda Divisão no ano passado, por coincidência, apenas o campeão não está na casamata comandando um time do interior do Rio Grande do Sul. Atualmente o profissional convive com a família em Venâncio Aires, onde - no cargo de presidente - levou o EC Guarani ao 5° lugar na Divisão de Acesso, em 2008. Agora busca concluir o curso de Educação Física.

Como você avalia a sua carreira após chegar a uma semifinal da Copa Hélio Dourado comandando o E.C. 14 de Julho, em 2012, e depois levar o Rio Grande para a Divisão de Acesso como campeão da segunda divisão gaúcha em 2014?

Você precisa olhar para trás, sentir-se feliz, agradecido e satisfeito pelo caminho percorrido e é assim que me sinto. Os resultados foram bons, pois em três anos na função, chegamos a duas semifinais, duas finais, com dois títulos conquistados, o que pode ser considerado um tempo promissor.  Mas para que tudo isso tivesse acontecido me preparei muito antes de assumir esse desafio, o que pra mim deve ser o principal estágio de quem deseja iniciar em qualquer área, mas principalmente nessa carreira que possui um nível de exigência e de responsabilidade altíssimo. O futebol evoluiu, hoje não basta um ex-jogador, largar a chuteira, pegar um apito, um quadro magnético e ministrar treinos achando que a prática de anos como atleta pode ser credencial para trabalhar nessa área. É muito mais.

O que é necessário para ser um bom técnico de futebol?

Acredito que o primeiro passo é ter em mente que ser técnico de futebol é mais do que um trabalho, que um emprego. É uma missão nobre e estar certo de que é isso o que realmente se quer. Ser técnico de futebol não é apenas uma aventura. É necessário buscar excelência em tudo, estudar muito, encarar os desafios com boa dose de coragem, mas com alta dose de sabedoria, ir para a arena e estar disposto a pagar o alto preço que o futebol te cobra. Virão tempos difíceis, mas se estiver convicto e preparado, suportará tudo muito bem e logo chegam os tempos de conquistas. Muito importante é estar preparado emocionalmente e precavido financeiramente.

Por que não houve renovação de contrato com o Rio Grande, clube a qual você treinou por duas temporadas e ajudou o torcedor a sentir novamente o gosto de um título após várias décadas?

Foram longos 52 anos de jejum, sem títulos, mas essa espera valeu a pena. Em Rio Grande deixei o meu melhor e sempre trabalhei no limite das minhas forças. Fui leal à instituição, agi sempre com transparência e imparcialidade no vestiário, tratei todos com muito respeito, como sempre faço e isso me faz andar de cabeça erguida. Vejo a continuidade como a chave do sucesso de um clube, do técnico e de sua comissão, se estendendo ao grupo de atletas, mas o imediatismo e a falta de convicção impedem que isso aconteça. Temos bons exemplos de técnicos que ultrapassarm os três anos de trabalho à frente de alguns clubes com ótimos resultados, e cito dois deles: o Rogério Zimermann (Brasil de Pelotas) e o Leocir Dallastra (Ypiranga). Numa conquista como foi a que tivemos no Rio Grande sempre há o desgaste natural, era importante para os profissionais envolvidos na conquista e para o clube ter dado continuidade, mas a diretoria não pensou assim e resolveu fechar o futebol, então seguimos nosso caminho. Foram 14 meses de trabalho em que fui muito feliz, grato ao clube, à diretoria, torcedores e imprensa local, mas a missão estava cumprida no momento em que a competição acabou e recebemos o anúncio do fechamento do departamnto de futebol.

Como explicar que um técnico considerado promissor, com bons resultados em tão pouco tempo, possa ficar por um período tão longo em inatividade?

Não sou o primeiro e não serei o último a passar por tal situação, pois infelizmente o futebol não é um esporte de justiça. Os títulos, as vitórias e as conquistas são facilmente esquecidas e o profissional sai do mercado numa velocidade impressionante. A mim cabe me preparar, continuar meus estudos, evoluindo e aguardar algum convite oficial que venha ao encontro dos conceitos e objetivos que prezo para o futebol. Temos vários exemplos de colegas que ficaram fora do mercado logo após uma conquista, mas que se fortaleceram, melhoram e retornaram realizando grandes trabalhos.

E dá para aproveitar esse período ausente da casamata?

Para mim nada supera estar no campo orientando, vendo as falhas e corrigindo, pegar um atleta com alguma deficiência, começar a treiná-lo e perceber sua evolução, isso para mim é um momento mágico, o ápice do dia. Mas quando decidi encarar a área técnica, que adiei por mais de vinte anos, sabia que enfrentaria essa dificuldade, mas não imaginava ficar tanto tempo afastado. Mesmo assim é um período importante para reconstruir novos modelos de treinos, estudar sistemas táticos que se desenvolvem rapidamente, assistir a jogos, aprimorar métodos e continuar aguardando sem resignação e acima de tudo ter a certeza de que temos, cada vez mais, muito a oferecer ao futebol. Tenho aproveitado bem sim, pois são 7 a 8 horas dia estudando tudo o que norteia o dia a dia de um vestiário, desde a parte física, técnica e tática, passando pela nutrição, fisiologia, até a medicina esportiva.

Houve propostas após sua passagem pelo futebol catarinense?

Apenas sondagens de fora do Estado, que agradeci e não evoluíram para uma proposta oficial. Meu foco está em terminar a faculdade de Educação Física que tracei como uma das prioridades na carreira e que foi prejudicada com minha saida do RS ano passado, mesmo que, por apenas 40 dias. Esperava mesmo algum convite aqui do Estado, até porque tão logo fomos campeões recebi informações que meu nome estava bem cotado em alguns clubes da 1ª divisão, o que acabou não se concretizando. Mas sinto que esse momento vai chegar no tempo oportuno. Agora, repensando friamente e presenciando o que está acontecendo aqui no Estado em relação à minha área, meu objetivo já mudou e caso venha convite de fora do RS devo aceitar.

Para finalizar, como conhecedor do futebol do Estado, qual é a sua avaliação sobre as competições realizadas no futebol gaúcho, nas três divisões?

Positiva, evoluímos em termos de formatação, da fórmula de disputa, o nível técnico das equipes melhorou muito e, com a diminuição dos clubes da 1ª divisão, teremos uma divisão de acesso e a segundona fortalecidas e equilibradas. A nossa 1ª divisão tornou-se um dos melhores estaduais do país, com ótimos recursos financeiros destinados aos clubes, o que dá uma sustentação existente em poucos Estados. Vejo a fórmula de disputa da Segundona muito promissora, principalmente no quesito limitação da idade sub-23, o que oportuniza atletas jovens e acaba diminuindo os custos dos clubes. Contudo, ainda carecemos de uma melhor organização nessa competição, mas que está se encaminhando. A divisão de acesso está consolidada, atrativa.

Texto: RB Assessoria de Comunicação e Imprensa

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